sábado, 27 de abril de 2013

Rogéria diz que Gay na juventude dela tinha menos preconceito do que em tempos de Marcos Feliciano

Em época de Marcos Feliciano e de muita gente saindo do armário, ela diz que não gostaria de ter que se assumir gay no século XXI, que nunca sofreu preconceito porque soube se impor, e que tem medo de fazer plástica porque não gostaria que cortassem seu cabelo. Rogéria também comenta a recente revelação de bissexualidade deDaniela Mercury, diz que já desconfiava que "havia alguma coisa" com Thammy Miranda e que não abre mão de um título: “Sou a verdadeira bandeira gay do Brasil.”



Como era ser gay na década de 50, quando você se assumiu?
Foi maravilhoso porque não tenho uma história triste de gay para contar. Minha mãe era maravilhosa. A primeira roupa que usei em um espetáculo foi ela quem bordou. Eu levava meus amigos gays lá para casa para ela rezar. Ela rezava quebranto e exorcismo. Ela era católica e espírita. Às vezes eu ligava e dizia que estava levando um grupo, e ela dizia que não tinha comida para todo mundo. E eu respondia: mas mamãe, ninguém vai aí para comer, não. É só uma rezadinha e acabou (risos). Eu tive uma mãe maravilhosa que, aos 3 ou 4 anos, já sabia o que eu era. Porque ninguém vira gay. Você nasce gay. Por isso que digo que não gostaria de viver a minha juventude gay agora, nesses tempos terríveis de Marcos Feliciano. O mundo era muito melhor na minha época.


Como vê a atuação de Marcos Feliciano como presidente da Comissão dos Direitos Humanos?
Ele é um horror! Estamos caindo em uma cilada muito grande com esse cara à frente de uma comissão tão importante. O que é ele falando sobre Mamonas Assassinas, gays e tudo o mais? Ele é louco! Estamos caindo em uma cilada. Na minha época não tinha isso.
O que achou da atuação de Thammy Gretchen, assumidamente gay, na novela das nove, e a revelação de Daniela Mercury sobre seu casamento com uma mulher?
A Thammy está maravilhosa e mostrando para todo mundo do que é capaz. Fez o Brasil se curvar diante dela. Tenho uma história engraçada com ela. Sou muito amiga de Gretchen, mas não conhecia a Thammy. Daí, fui fazer um show em Florianópolis e fui apresentada à ela, achei uma gracinha, dizia que ela seria a sucessora da mãe, mas sentia que ela não ficava perto de mim, corria de mim toda hora. Quando ela se assumiu, matei a charada e falei: que bom. A pior coisa do mundo é você ser gay e ter que ficar se escondendo. Daniela também arrasou, e ainda chamou a outra de esposa. Achei de uma coragem incrível!
 

Quando se deparou com o lado cruel de não poder ser assumir?
Quando eu era estrela de um espetáculo do Carlos Machado e o delegado Padilha chegou no hotel Fred’s - onde hoje é o Hotel Windsor, aqui no Rio de Janeiro - e falou que não me queria no espetáculo. Nesse dia eu chorei muito. Mas todo mundo que me fez alguma coisa, eu enfrentei. Nunca quis guardar mágoa.
Que conselho daria para quem quer assumir publicamente sua sexualidade mas tem medo?
Estudem! Quanto mais cultura você tem, mais força você ganha para enfrentar gente ignorante. Acho engraçado que hoje em dia tem umas bichinhas todas bombadas, mas que não enfrentam nada(risos). Sempre enfrentei tudo na minha época, não deixava ninguém tirar onda com a minha cara. Já ajudei até socorrer mulheres que estavam em perigo na rua.
Quando se travestiu pela primeira vez?
Coloquei um maiô catalina, uma saia amarelo ovo e um chapéu e fui para a janela. Tinha 12 anos. As pessoas passavam e falavam: que bonitinha. Só que uma tia minha viu e contou para minha mãe. Foi a primeira vez que mamãe brigou comigo. Não por eu estar de roupa de mulher, mas por ter deixado minha tia ver e ir encher o saco dela (risos). A primeira vez que saí travestido na rua foi em Paris, em 1963. Porque lá eu descobri o meu cabelo. Lá, como o clima é seco, meu cabelo ficava lindo e cresceu que era uma beleza. Mas meus amigos falavam que eu estava muito esquisito com aquele cabelo e vestido de homem, que parecia uma lésbica (risos). Deram-me a ideia de me vestir de mulher e fazer o teste do metrô. Se ninguém desconfiasse, tinha dado certo. Peguei o metrô em Pigalle e fui até Montparnasse. Deu certo e nunca mais me vesti de homem. O travesti não tem que ser mulher, tem que parecer mulher. E eu sempre pareci. Nunca tive gogó, olha a minha mão, e olha que essa é a de uma pessoa com 70 anos! Sou assim e adoro ser o homem que sou.

Por que você não quis operar?
Já ouvi que não podia trabalhar porque não era mulher. E me ofereceram para pagar operação para trocar de sexo. Mas nunca quis ser mulher. Amo ser quem sou. Minha única transformação foi em Paris mesmo. Quando deixei meus cabelos crescerem e comecei a aplicar injeção de hormônio em mim mesma (Nesse momento Rogéria pede para que a repórter toque seus seios e aperte para que se certifique de que não há silicone). Viu? Foi crescendo, crescendo e tudo deu certo.
Você é muito católica. Como é sua relação com a igreja mesmo sabendo que ainda há resistência em releção a homossexualidade dentro da instituição?
Ótima. Acredito que sou filha de Deus, nos meus santos, tenho meu altar em casa. Como não vou acreditar em Deus, se sofri um acidente de carro, levei 530 pontos no rosto e 45 dias depois estava na Globo e no teatro? No outro dia, estava vendo alguém dando depoimento na televisão dizendo que tinha deixado de ser gay. Vontade de estar na plateia e gritar: se você deixou de ser gay, por que continua com essa voz de viadinho? (risos). Acorda, bicha! Deus ama a gente como a gente é. Não me venha com essa história de que Jesus não me ama, não. Aliás, tenho muitas fãs evangélicas. Só não trato de assunto de religião com elas.
Fonte: Globo

10 comentários:

  1. Rogéria segurando a foto da Bette Davis <333

    Ela falou uma verdade, estudem bees, estudem, pra mostrar a sociedade do que somos capazes!

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  2. Incrivel a entrevista da Rogéria.Só acho ela um pouco contraditória. Primeiro que não concordo que tenha sido mais facil se assumir gay a 50 anos atras(apesar de não ter vivido nessa epoca)onde ser gay era considerado DOENÇA por medicos e psicologos.Outra parte do texto me parece um pouco aquele velho discurso que muitos adontam depois de uma determinada idade onde ''tudo'' no passado era melhor que na atualidade.Freud explica.Outra coisa é o fato de Rogeria dizer com todas as letras que NÃO LEVANTA bandeira gay pelo fato de ter MEDO de ficar queimada na midia e com seu ''publico'' de senhoras idosas que não entenderiam sua ''postura''(como se isso fosse evitar todos lembrarem que ela biologicamente ainda é homem).Isso foi dito por ela mesma em uma entrevista recente dada para Marilia Gabriela no sbt (que por ser mãe de um gay ficou levemente desconfortavel com essa afirmação,vejam no youtube). Contraditoria,uma hora ela fazer a ''egipcia'' para com os problemas dos gays e na sequencia dar um testemunho tão positivo como esse.Fico com a pulga atras da orelha com essa senhora(mas continuo respeitando sua importancia no cenario gay brasileiro de outras epocas)...

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  3. eu hein a mulher já virou transex e ainda tá em cima do muro. ela tá é aproveitando a evidência no assunto pra ficar mais na mídia. além disso não se pode dizer que um transexual é representante de todos os gays, afinal existem n outros "tipos" de gays.

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  4. CONCORDO PLENAMENTE COM O ANONIMO 22:24,RESPEITO A TRAJETORIA DA ROGERIA E SUA IMPORTANCIA NO MUNDO DO ESPETACULO NACIONAL MAS ACHO ELA BASTANTE CONTRADITORIA E NA ENTREVISTA NO PROGRAMA DA MARILIA GABRIELA ACHEI A ROGERIA BEM " EMCIMA DO MURO" SENDO UM HOMEM GAY FOI BASTANTE LIGTH NOS POSICIONAMENTO COM MEDO DE FALAR ALGUMA COISA QUE DESAGRADASE CLASSE MEDIA CATOLICA E PERDER CONVITES PARA APARECER NO PROGRAMA DA ANA MARIA BRAGA OU DA ANGELICA.E COMO A MARILIA GABRIELA TEM UM FILHO GAY ESPERAVA DA ROGERIA UM POSICIONAMENTO MAIS CLARO

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  5. Acho que esse tal Franccesco Almeida não conhece a Rogéria e nem leu a entrevista direito.Ela se considera um homem que se veste de mulher. transex é uma pessoa que se acha uma mulher no corpo de homem, ou vice versa.Vai estudar como disse a Rogéria.Outro ponto que ele falou, que ela quer ficar na mídia.Querido ela não precisa disso, até novela na Globo, ela fez recentemente(Lado a Lado), ela é respeitada, não por ser gay, mas sim por ser uma artista.Vai se informar antes de falar besteira

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  6. Eu fiquei sem entender qual foi a contribuição dela a causa gay...

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  7. Ser gay não é fácil em tempo nenhum,principalmente na época dela.E outra,conciliar seios e pênis,eu em.

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  8. O anônimo das 27 de abril de 2013 22:24 falou tudo. Não tenho o que acrescentar.

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  9. levem em conta de onde a Rogeria veio. o Rio sempre foi um estado liberal. mas hj com Feliciano e o cinismo cada vez maior das gays intriguentas, a coisa ficou uma bosta. de um lado, os heteros ranzinzas e de outros os gays que cada vez mais maltratam, invejam e criam intrigas entre os proprios gays.

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  10. Eu tinha um certo respeito pela Rogéria, pela história que ela carrega. Mas joguei esse respeito no lixo no dia em que vi uma participação dela em um programa da Luciana Gimenez, há uns anos. No tal programa, ela afirmava que fazia arte "para a família brasileira" e detonava um monte de coisas, inclusive as bichas New Generation. É péssima essa detonação constante de afeminados, de tipos diferentes, das novas gerações, porque isso não soma, só divide! Cultura, realmente, é muito bom. Mas e quando você não tem acesso? Você só sabe brigar pelos seus direitos, só honra o próximo e é sábio se tem cultura, estudo? Balela! Rogéria é um dinossauro que, apesar da militância, é da mesma laia do finado Clodovil. De boca fechada, realmente, é a diva que sonha ser.

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