O casal gay que diz ter sido vítima de homofobia na festa universitária “Outubro ou Nada”, realizada por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP em uma mansão no Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, na madrugada de sábado (23), afirmou ao G1 que está com medo de participar de outras festas da universidade.
“Estamos com medo de ir às festas da USP agora”, afirmaram Henrique Andrade, de 21 anos, estudante de biologia da universidade, e seu namorado, um aluno da arquitetura da USP que prefere não ter o nome divulgado, em entrevista concedida ao G1 na tarde desta terça-feira (26). De mãos dadas, eles aceitaram ser fotografados, desde que não mostrassem o rosto. “Não queremos aparecer. Queremos que haja segurança para gays nas festas uspianas.”
No sábado passado, os namorados contam que foram à festa "Outubro ou Nada", num casarão no Morumbi. Lá, relataram, estavam sentados em um sofá, conversando e abraçados, quando foram surpreendidos por outros três jovens que os xingaram com palavrões homofóbicos e os agrediram com chutes e socos. “A segurança demorou para agir e retirar os agressores”, disse o namorado de Henrique.
As marcas das agressões já sumiram de seus corpos, segundo o casal, mas as lembranças das agressões persistem. Disposto a reagir, Henrique decidiu fazer um boletim de ocorrência na manhã desta terça na Polícia Civil. Como homofobia não é crime, o caso foi registrado como injúria e lesão corporal na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), na região central da capital.
Como a vítima não fez nenhuma representação, a polícia ainda não instaurou nenhum inquérito para apurar o caso. Para que haja uma investigação, os estudantes deverão entrar com uma queixa-crime no prazo de seis meses. O problema é que os agressores ainda não foram identificados. “Era um gordo, um musculoso e outro garoto com estatura mediana. Se não tivéssemos saído da festa, teríamos ido direto para o hospital porque os agressores estavam dispostos a nos espancar mesmo. Souque não eram alunos da ECA”, disse Henrique. "Ainda vamos estudar se entraremos com a representação. Nossa intenção não é culpar ninguém, mas pedir que novas ações dessas ocorram".
Em nota, a Atlética da ECA lamentou as agressões verbais e físicas contra o casal gay de alunos da USP. Por telefone, Daniela Bernardes, atual presidente da atlética, afirmou que a questão da demora no socorro da segurança durante a festa será apurada, bem como a tentativa de identificar os agressores. “Também estamos estudando ações para que fatos como esse não voltem a se repetir. Para isso, vamos fazer uma campanha de conscientização", disse Daniela.
A Coordenadoria do Núcleo de Combate à Discriminação, Racismo e Preconceito da Defensoria Pública do Estado de São Paulo sugere que o casal tente identificar e reconhecer os suspeitos da agressão por meio das imagens que foram feitas na festa. Uma equipe ficou incumbida de tirar fotos do evento. “O núcleo ofereceu assessoria e apoio aos jovens, caso eles decidam entrar com queixa-crime, pedir uma indenização ou dar entrada num processo administrativo contra homofobia”, afirmou a coordenadora do núcleo, a defensora Maíra Diniz.
O Centro Acadêmico de Biologia da USP também repudiou o ataque homofóbico durante a festa universitária. Convidados pagavam R$ 45 pelo convite, enquanto alunos da USP tinham de desembolsar R$ 35.
Na noite do próximo dia 5 de novembro, o Centro Acadêmico de Biologia e o casal de alunos querem promover uma festa de protesto contra a homofobia intitulada “Na Bio Pode”. “Será uma festa importante no Centro Acadêmico para dizer que na biologia podemos ser quem somos”, disse o professor de antropologia e filosofia Rui Murrieta, amigo do casal.
Leia abaixo abaixo íntegra do comunicado da ECA sobre o incidente na festa:
“Comunicado Oficial
Na noite da última sexta-feira, dia 22 de Outubro, a Ecatlética realizou a festa "Outubro ou Nada" numa locação no bairro do Morumbi. Durante a festa, um aluno do curso de Biologia e seu namorado foram agredidos verbal e fisicamente, num ato claro de homofobia. Quando um membro da Atlética foi informado, providenciou a retirada imediata dos agressores da festa e, em nome da entidade, se desculpou com vítimas do ataque - àquela altura, era tudo o que podia ser feito.
A Ecatlética lamenta muito o ocorrido e gostaria de manifestar que repudia tais atos e não compactua com esse tipo de opinião de forma alguma. Nós organizamos festas com o objetivo de promover diversão e a integração entre os alunos e somos contra qualquer discriminação. Nossas festas não costumam ter esse tipo de problema e sempre tiveram o diferencial de dar espaço à diversidade, a qual apoiamos, portanto faremos o possível para que assim continue.
Com relação à postura dos seguranças presentes e envolvidos que, de acordo com relatos, não tomaram nenhuma atitude na ocasião da agressão, entraremos em contato com a equipe para esclarecer os fatos e tomar as devidas providências.
Lamentamos mais uma vez o ocorrido e nos colocamos à disposição para qualquer tipo de suporte, esclarecimento ou ajuda que se faça necessário.
Atenciosamente,
ECAtlética
Leia abaixo o relato de Henrique sobre a festa onde afirma ter sido alvo de jovens homofóbicos:
“Relato – Homofobia em festa da USP
Atitudes como as que aconteceram na última sexta-feira impedem que eu me cale ou tenha medo de mostrar a realidade para todos os alunos da USP e demais pessoas que porventura leiam esse relato.
No dia 22 de outubro, eu, Henrique Andrade do terceiro ano de Biologia da USP, estava junto com meu namorado na festa “Outubro ou Nada” realizada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) em um imóvel na Rua Itororó, 226, no Morumbi. Fomos junto com meus amigos de curso aproveitar essa festa, após uma prova. Estávamos cansados, e eu e meu namorado sentamos em um sofá em um dos cômodos da casa onde outras pessoas também descansavam. Conversávamos abraçados quando três caras se dirigiram até nós e começaram a nos xingar. Estavam visivelmente alcoolizados, e disseram inúmeros palavrões, gritaram para que saíssemos da festa pois estávamos manchando o lugar e usaram diversos adjetivos homofóbicos.
Enquanto apontavam os cigarros acesos em nossos rostos, como forma de intimidação, um deles jogou um copo cheio de bebida em nossas roupas. A partir desse momento as agressões morais somaram-se às agressões físicas: foram chutes e socos, enquanto meu namorado os empurrava tentando nos defender. Duas meninas que estavam no local chamaram um segurança, que para meu espanto ao chegar no local nada fez. Nitidamente compartilhando da visão homofóbica dos agressores, o segurança ficou olhando a briga enquanto eu gritava pedindo para que ele retirasse aqueles três caras do recinto. Nesse meio tempo, levei um tapa na cara na frente do segurança enquanto tentava dialogar com os indivíduos e um deles falou que eu e meu namorado estávamos marcados. A equipe de segurança só tomou uma atitude após a formação de um aglomerado indignado com a barbárie que estava acontecendo.
Os agressores homofóbicos foram contidos, mas não foram retirados da festa. Reencontrei com meus amigos de curso e contei a eles sobre a barbárie ocorrida. Indignados, entraram em contato com pessoas da ECA. O vice-presidente da Atlética da ECA foi muito atencioso e pediu milhares de desculpas. Depois que ele conversou com os seguranças, a equipe responsável retirou os agressores. Eles relutaram em sair da festa, e continuaram com ameaças e xingamentos do lado de fora dos portões do casarão. Foi preciso escolta até um táxi para que pudéssemos sair da festa.
No sábado, dia 23, soube que mais tarde na festa o carro de uma menina foi depredado pelos mesmos três agressores. Eles chutaram e urinaram nas portas do carro dela, porque ela respondeu “sim” após eles perguntarem se ela tinha amigos gays.
Eu e meu namorado estamos bem fisicamente, mas a agressão moral ainda dói. Estamos tomando as providências cabíveis juntamente com o Centro Acadêmico (CA) da Biologia e a Defensoria Pública do Estado de São Paulo (existe a Lei Estadual 10.948/2001 de combate à discriminação homofóbica em São Paulo). Não quero punir ou me vingar de ninguém, só não acho que atitudes homofóbicas como as ocorridas na festa pelos agressores e pelo segurança devam ser vistas como naturais, relevadas pelas pessoas. Nunca imaginei que seria vítima de um tipo bárbaro de agressão como esse, e quero alertar e servir como atitude precedente para os que sofrerem com situações semelhantes. Não vou me calar perante essa covardia.
Reforço a ajuda da Atlética da ECA na resolução dessa barbárie. Sei que tanto o CA quanto a Atlética da ECA não apóiam essa atitude homofóbica dos agressores e do segurança da festa. Infelizmente a equipe contratada não está preparada para lidar com a diversidade. Que eles não sejam chamados para outras festas na USP, ou que aprendam a tratar de forma não discriminatória os gays. E que a ECA se posicione formalmente sobre esse lamentável ocorrido.
Quero agradecer a todos os amigos pela preocupação que tiveram comigo e com meu namorado. Muito obrigado.
Não à homofobia !
“E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor?” Caio Fernando Abreu”
Repúdio
Após receber o relato de Henrique, o Centro Acadêmico de Biologia decidiu fazer uma moção de repúdio. O documento está sendo distribuído na USP, solicitando assinaturas dos estudantes.
“O Centro Acadêmico de Biologia da USP (SPHN-CABIO) gostaria de publicizar o seu mais completo repúdio à agressão física e moral sofrida pelo estudante de nosso curso, Henrique Andrade, e pelo seu namorado *, durante a tradicional festa uspiana "Outubro ou Nada". Henrique e * foram abordados por três jovens porque estavam abraçados na festa. Foram agredidos verbalmente, ameaçados, convidados a saírem da festa e, por fim, agredidos fisicamente em meio a uma completa negligência da equipe de segurança da festa que só tomou a devida atitude de expulsar os agressores muito tempo após o ocorrido. É extremamente penoso constatar que continuamos vivendo em uma sociedade repleta de preconceitos e intolerância. Em um momento como esse, é fundamental que a comunidade de estudantes, professores e funcionários da universidade, bem como suas entidades representativas, exponham suas posições, organizem debates e façam atos para repudiar a homofobia e defender uma sociedade tolerante que respeite a livre orientação sexual e identidade de gênero”, escreve o Centro Acadêmico de Biologia, que finaliza: “Convidamos todos que lerem essa carta a contribuírem para que eventos como esse não mais aconteçam. Não à homofobia! Pela criminalização da homofobia no Brasil!”.
* a pedido do namorado de Henrique, o nome dele foi suprimido da nota.
Fonte: G1
Para mim, criar uma lei que puna a homofobia - palavra entendida como o ato de agredir física ou verbalmente um gay, mas de fato significa outra coisa - é como dizer que somente esses casos de agressão são punitivos. Por isso, sou contra essa lei. Os gays lutam por direitos iguais em sociedade, então basta que os boletins registrados como injúria sejam mais rígidos e favoreçam as vítimas, sejam elas gays ou héteros. Negar adoção ou casamento civil aos gays é preconceito, e defendo esses direitos; essa tal homofobia é tornar o gay "À PARTE" da sociedade, e não "PARTE" dela.
ResponderExcluirSei que vão me criticar, mas continuo não sendo favorável à lei contra a homofobia. Acho que qualquer tipo de agressão deve ser punida. Mesmo se atualmente a homofobia fosse um crime, a situação continuaria sendo a mesma, pois os agressores não foram identificados. Como citado no próprio texto, o caso foi registrado como injúria e lesão corporal. Acho suficiente, IGUAL pra todo mundo. Claro que não é muito, não é o suficiente, mas é necessário que haja uma punição mais severa, e que a lei seja cumprida. É ilusão achar que criminalizando homofobia resolveria alguma coisa. Se fosse assim, a lei maria da penha teria acabado com as agressões contra a mulher. Na minha opinião, a criminalização da homofobia apenas acentuaria diferenças e aumentaria o ódio. Afinal, ao prestar uma queixa, sua sexualidade seria evidenciada, sendo que em casos de agressão, não deveria importar raça, sexo ou sexualidade, e sim o fato de que nenhum ser humano merece sofrer nenhum tipo de agressão, INDEPENDENTE DO MOTIVO, e todo agressor deve ser tratado da mesma forma, de acordo com a intensidade da agressão. Afinal, se for pra ser assim, terão que criar uma lei para cada motivo que leve a agressão. Eu mesmo, por ser bem "masculino", já fui ofendido por homossexuais a lá serginho BBB em um show, hostilizado mesmo, por me recusar a dar um beijo no rosto de outro rapaz. E aí, vamos ter que criar uma lei contra a "homossexualidadenãoafeminadafobia"?
ResponderExcluirIsso definitivamente é um absurdo, as vezes eu odeio heterossexuais. Por serem heteros se acham no direito de julgar os que não compartilham dos mesmos gostos que eles. Mas aí penso que muitos deles não são assim e mudo de idéia.
ResponderExcluirFico imaginado quão grande foi o constrangimento desses dois jovens, que vergonha eles passaram e como isso deve doer (tentei me imaginar no lugar).
Eu sinceramente fiquei até com uma sensação ruim só de pensar. Espero que esses indivíduos sofram as consequências pelo ato preconceituoso.
Enfim, o mundo não é foi feito para pessoas consideradas diferentes. Exemplo disso são os deficientes, e cito negros também, que ja sofreram muito nas mãos de outros da mesma espécie. Viver nesse mundo podre me enoja cada dia mais com essas pessoas podres.
José Serra promete vetar lei contra homofobia
ResponderExcluirTentando virar o jogo na corrida presidencial, tucano ataca adversária durante visita ao Maracanã dizendo que sofreu com ‘batalhões de choque do PT’
POR CELSO OLIVEIRA
Rio - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, aumentou ontem a polêmica sobre o projeto de lei que criminaliza a homofobia. Durante a 50ª Convenção Anual das Igrejas Assembleias de Deus do Paraná, em Foz do Iguaçu, o tucano prometeu vetar o texto caso seja aprovado no Senado, se for eleito. Para ele, o projeto, como foi aprovado na Câmara, pode tornar a pregação de pastores evangélicos contra a prática homossexual um crime “semelhante ao racismo”.
Antes, no Rio, onde visitou a reforma do Maracanã para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016, Serra atacou a militância de Dilma Rousseff, dizendo ser vítima na campanha de “bloqueios dos batalhões de choque do PT”. “Sofri muito nessa campanha, como em Campo Grande (onde foi atingido por objeto na cabeça, semana passada). E, do ponto de vista verbal, está havendo muita mentira, ainda mais na TV. Isso não ajuda a manter um bom nível. Quando um não quer, o nível não fica bom”, disse.
Na visita ao estádio, o candidato garantiu que, se for eleito, dará apoio à preparação do Brasil e do Rio para os dois eventos esportivos. “É uma oportunidade de resolver muitos problemas do País e deixar um legado para as áreas de transporte e saneamento”. Ele fez embaixadinhas e pisou nas marcas dos pés de craques na Calçada da Fama do Museu do Futebol.
Na entrevista coletiva, não abandonou a marcação cerrada ao governo Lula e fez críticas como a alta do valor da cesta básica. “Basta ver como nos últimos três meses subiu o preço da carne, que virou produto de luxo. O governo tem estado inerte”, disparou.
À noite, na convenção dos evangélicos, Serra disse que, se for eleito, não terá dificuldades de fazer a maioria no Congresso “sem barganhas” para evitar a aprovação da Lei da Homofobia, de autoria da ex-deputada federal Iara Bernardi, do PT de São Paulo. “Uma coisa são grupos de extermínio, praticando violência contra homossexuais, como já ocorreu em São Paulo. Outra coisa é o projeto como está, que passa a perseguir as igrejas que combatem a prática homossexual”, afirmou.
Há duas semanas, a candidata do PT, Dilma Rousseff, divulgou carta aberta à população na qual declara apoio parcial ao projeto, com ressalvas. “Será sancionado no meu futuro governo nos artigos que não violem a liberdade de crença, culto e expressão e demais garantias constitucionais individuais existentes no Brasil”.
FONTE: Jornal O DIA
http://odia.terra.com.br/portal/brasil/eleicoes2010/html/2010/10/jose_serra_promete_vetar_lei_contra_homofobia_119998.html
Às vezes eu penso que a melhor saída para a humanidade era explodir o planeta Terra e começar tudo do zero.
ResponderExcluirLOL. A USP e seus estudantes altamente descolados, com seus QIs tombados pelo patrimônio público.
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