O que você faria se, sendo um homem heterossexual e com um pênis entre as pernas, fosse sequestrado e torturado sem ao menos saber o motivo, e ao acordar, descobrisse que foi submetido a uma vaginoplastia e sua aparência física havia se transformado na de uma mulher?
Surreal? Nem tanto quando se trata de uma história contada por um cineasta como Almodóvar. Sua mais nova produção, “A Pele Que Habito”, nos apresenta Richard Ledgard (Antonio Banderas), um cirurgião plástico que, após a morte da sua mulher num acidente de carro, torna-se obcecado por criar uma pele com a qual poderia tê-la salvo.
Doze anos depois, ele consegue cultivar esta pele em laboratório, aproveitando os avanços da ciência e atravessando campos proibidos como os da transgênese com seres humanos. Neste meio tempo, se depara com Vicente (Jan Cornet), a quem acusa de ter estuprado sua filha e, como vingança, decide transformá-lo numa mulher.
Em cena, todo o equilíbrio entre o drama e a aventura, o suspense e a comédia, sempre presentes nas produções de diretor, aqui com um tom mais obscuro e carregado. Numa única produção, Almodóvar lança um olhar sobre várias discussões: as relações de poder e submissão, os limites da ciência e da tecnologia, os tabus da sexualidade humana, a diferença entre a representação física e a maneira como cada um se auto-reconhece.
O resultado final é um verdadeiro tratado sobre os limites do ser humano nas mais diversas dimensões. Com uma produção cinematográfica que se divide entre vários ótimos filmes e outros tantos irregulares, Almodóvar consegue dar um acabamento redondo ao seu mais recente trabalho, sem perder a mão em um só minuto, entregando ao espectador o melhor do que o seu cinema pode oferecer.
Fonte: Uol
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